#4 Como conciliar as atividades econômicas e preservação da Bacia do Rio das Pedras?
Ouça a reportagem.
A legislação e o Zoneamento do Município restringem a instalação de empreendimentos de alto impacto ambiental na região. Segundo o Secretário Municipal de Meio Ambiente de Guarapuava, Celso Alves Araújo, isso está sendo cumprido à risca e loteamentos, empreendimentos de risco não são autorizados na área da Bacia Hidrográfica do Rio das Pedras.
No entanto, professor e pesquisadores da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste) sugerem medidas ainda mais rígidas para proteção da área de manancial do município de Guarapuava.
Atualmente, segundo o Diagnóstico Socioambiental da Bacia do Rio das Pedras, elaborado pela Unicentro , quase metade da área é composta por mata nativa. Mas, também existem atividades com risco alto de impacto ambiental em funcionamento.
A agricultura convencional atualmente é pequena na região. Porém, sua expansão poderia criar problemas de poluição do solo e da água por produtos químicos. Esse é um exemplo de atividade de risco na Bacia.
TURISMO COMO POSSIBILIDADE
A família Stoeberl é um exemplo dessa possibilidade. A advogada, e agora empresária, Márcia Stoeberl e a família transformaram uma área com plantio de soja, que antes era uma leiteria, em um empreendimento turístico.
Segunda ela, a família percebeu que a opção mais sustentável para manter o local não seria com uma atividade econômica que tradicionalmente é realizada na região. Era preciso inovar, buscar uma atividade que fosse ao encontro da conservação.
O nosso potencial turístico é bem grande, é uma região que se você fizer uma viagem aérea vai perceber que tem muitas áreas de preservação e isso deveria ser valorizado pelo poder público, porque esse turismo ele preserva, ele cuida da Natureza, o que é muito importante. Afinal de contas, o rio é a água que você toma aqui na cidade, afirma Márcia.
Emanuel, filho da Márcia e um dos responsáveis por transformar a propriedade da família no Hope Valley Adventure, conta que no início seria construída uma tirolesa e aberto o local para pesca recreativa. Mas a demanda por mais atrativos surgiu.
Começamos com a tirolesa e o pesque-pague, e as pessoas pediram um local para comer, por isso montamos o restaurante. Depois surgiu a demanda por hospedagem e camping, e fizemos os chalés. E agora temos várias atividades que exploram as belezas do lugar sem ferir a natureza, explica Emanuel.
O local recebe visitantes e turistas e aproveita o potencial do próprio local, como a mata atlântica, com araucárias, que é usada para trilhas, a paisagem do vale e quedas d’água.
OUTORGAS E EMPRESAS NA BACIA
Além da fábrica de papel existe um frigorífico na região. Os dois empreendimentos usam água do rio e lançam efluentes, ou seja, lançam água usada na indústria novamente no rio.
Segundo o Instituto Água e Terra, a fábrica de papel, quem pode lançar 70m³ de efluentes por hora, está com todas as licenças em dia e não tem notificações sobre descumprimentos das obrigações contidas nas licenças.
Na bacia também existem usinas de geração de energia. E há projeto para construir uma nova usina na região. E a localização dela seria a menos de 2 km do ponto de captação da Sanepar. Até agora não há licenças para essa obra. Veja no mapa.
POR QUE ALGUNS EMPREENDIMENTOS SÃO ARRISCADOS?
Um aspecto é a vegetação. Construir uma usina, por exemplo, exige derrubada de mata e isso impacta na preservação da área. As fábricas usam água do rio e também despejam rejeitos no corpo hídrico, claro que a legislação coloca parâmetros e exige tratamento prévio do efluente. Mas, já pensou uma concentração de fábricas nessa região? Elas poderiam saturar o rio.
Esses aspectos conseguimos entender, mesmo sendo leigos no assunto. Porém, também devemos considerar o que está abaixo da terra. O professor Adalto Gonçalves de Lima, que é da Unicentro, nos ajuda a compreender. Ele já realizou diversas pesquisas na área e fez parte do grupo que realizou o Diagnóstico Socioambiental da Bacia, recentemente elaborado.
Ele explicou que no subsolo da bacia existem rochas que se formaram a partir de derrames vulcânicos. Mas, elas não estão todas inteiras, há fraturas, falhas (saiba mais ouvindo o Bônus, no final da reportagem).
Elas funcionam como caminhos preferenciais de circulação da água, desde a superfície até o subterrâneo. A água e os poluentes podem se infiltrar nessas zonas de fratura e atingir os reservatórios subterrâneos, ou a água subterrânea pode subir e extravasar, é o caso de nascentes, explica Adalto.
Por isso, é preciso proteger essas regiões onde existem falhas. Adalto observa que nelas a vegetação deve ser mantida e ter critérios de proteção ambiental para instalação de empreendimentos como indústria e postos de combustíveis.
# BÔNUS
Como é a formação de rochosa em Guarapuava e especialmente na região da Bacia do Rio das Pedras? Ouça a explicação do professor Adalto Gonçalves de Lima, professor e pesquisador da Unicentro.
Confira as outras reportagens da série Rio das Pedras: nossa água de cada dia.
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